Animação japonesa correndo perigo?

"A não ser que algo seja feito, a animação
japonesa será arruinada." Koichi Murata, presidente
da companhia de animação Oh Production.

De todo o largo lucro que a animação japonesa gera do comércio atualmente, os bolsos dos animadores estão cada vez mais magros. Como exemplo, todo o comércio internacional da série de jogos baseados em Pokémon gerou em torno de 3 trilhões de ienes. Mas, enquanto isso, um animador em um pequeno estúdio em Tóquio é felizardo quando consegue apenas 50 mil ienes (cerca de 470 dólares) por mês.

Muito do recente interesse em animês vêm do exterior, segundo o presidente da Dream Ranch (empresa do grupo Sony Music), Kiyokazu Matsumoto. Ele diz que uma fábrica de brinquedos norte-americana ofereceu a sua companhia cerca de 10 milhões de dólares pelos direitos de distribuir produtos estrelando os personagens de um animê que sua companhia nem ao menos concluiu ainda. Para Matsumoto isso é surpreendente pois é cerca de 100 vezes o que essas séries geram pelos direitos de transmissão no Japão. A proposta veio após Matsumoto e sua companhia começarem a mapear uma animação baseada em ilustrações de um artista que freqüentemente, ganha as capas das revistas de quadrinhos com suas obras. Antes, a Dream Ranch já havia quase negociado um acordo com uma companhia Hollywodiana para transformar a história em um longa metragem de animação.

Hoje em dia, a tendência é transformar personagens de animê em produtos e jogos o mais rápido possível. Foi Pokémon que revolucionou o velho conceito que animês eram feitos primeiramente para o mercado doméstico e depois, como comércio secundário, para o exterior. Os jogos eletrônicos, bonecos e outros produtos provaram um sucesso instantâneo quando chegaram ao mercado americano. Cerca de 120 milhões de jogos da série foram vendidos ao redor do mundo. A série animada foi exibida em 68 nações. A companhia que detêm os direitos da série, no Japão, tem negócios com cerca de 200 empresas estrangeiras e 70 empresas japonesas para licenciamento de produtos com a marca da série. Existem cerca de 2 mil produtos com a marca, estrelando personagens de Pokémon.

Claro, a aclamação aos animês pelos estrangeiros não é nenhuma novidade. Tudo começou nos anos 60, com "Astro Boy". Recentemente, Hayao Miyazaki ganhou o Urso de Ouro de Berlim em 2002 e o Oscar em 2003 com sua produção "A Viagem de Chihiro". Innocence, de Mamoru Oshii foi exibido no Festival de Cannes em maio e chega aos cinemas norte-americanos no segundo semestre.

Os criadores de Innocence também estão de olho nas oportunidades do comércio estrangeiro. Eles gastaram cerca de 2 bilhões de ienes para produzir sua obra, com o intuito de ela chegar ao exterior, um valor próximo ao gasto com A Viagem de Chihiro. Porém, isso é nada comparado aos quase 10 bilhões de ienes que Hollywood gasta com suas animações. Os patrocinadores de Innocence incluem grandes companhias japonesas, bem como o grupo Disney. O produtor Katsuji Morishita, do Production IG, responsável pela obra, diz: "Diferente dos animês convencionais, nós visamos Hollywood desde o começo."

Como os animadores japoneses não têm nem de perto os fundos que os animadores da Disney gozam, a animação japonesa tem de apelar para menos frames e concentrar-se em boas e apelativas histórias. E, claro, eles também tem a sua disposição o grande número de mangás para se inspirar. Porém, os animadores japoneses estão perdendo espaço para os competidores na China e na Coréia do Sul, onde os custos com mão de obra são mais baratos. Enquanto os custos com a mão de obra no Japão só aumentam, os investimentos nas produções não. Desmotivado por um salário mensal a beira dos 50 mil ienes, um animador de 26 anos que integrou-se ao time de produção da Oh Production há um ano diz: "Às vezes eu queria desistir, eu nunca imaginei que seria assim". Apenas com ajuda financeira da família o animador consegue dar rumo a sua vida.

Das aproximadamente 440 companhias de animação do Japão, cerce de 70% são pequenas, com 30 trabalhadores ou menos, de acordo com a estatística. Essas companhias recebem cerca de 10 milhões de ienes por trabalho de anunciantes e patrocinadores. As vezes não é o bastante para cobrir os custos. O dinheiro vem mesmo dos direitos de transmissão, que geralmente são das estações de TV, editoras e grandes companhias de animação. Conseqüentemente, as pequenas companhias, não compartilham das vendas dos produtos com a marca da série. Muitos animadores, cansados do pequeno salário, se demitem em alguns anos. E com mais e mais animações sendo feitas na Coréia do Sul e na China, muitas das indústrias domésticas temem o "vazio" da indústria de animação. "A não ser que algo seja feito, a animação japonesa será arruinada", lamenta Koichi Murata, presidente da Oh Production.




Fonte: AnimesPró

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